Como foram os meus surtos

Antes de ser diagnosticada, eu tive duas situações estranhas, mas que não foram classificadas como surto da EM:

  • Formigamento na perna esquerda, que durou mais de uma semana. Fui em alguns médicos e nenhum encontrou nada, fiz exame para verificar a parte circulatória e nada, até que um ortopedista diagnosticou como um nervo pinçado, a causa do formigamento e recomendou alongamento. Ele melhorou com o tempo sem eu fazer nada.
  • Perna esquerda pesada, acordei um dia com a perna super pesada. Caminhei praticamente arrastando a perna, eu sentia que estava estranha. Acho que de tanto fazer esforço no caminho pro trabalho desmaiei. Fui no médicos, e nada foi identificado. Se deduziu que era TPM.

Até que:

1º surto: Tiver perda de dicção… dificuldade pra falar, como se eu estivesse bêbada. Foi esse surto que me levou ao diagnóstico conforme relatado no outro post aqui. (Tive a sorte de cair com uma boa médica, e com um sintoma que se enquadra no protocolo de AVC.)

2º surto: Foi no olho. Comecei a enxergar como se tivesse um filtro do Instagram em um pedaço do meu olho direito. Uma mancha bem escura. Eu enxergava tudo, mas esse pedaço era bem escuro, e eu via bem onde a mancha começava e terminava. Tive medo de ficar assim pra sempre, mas no segundo dia de pulsoterapia, abri o olho de manhã e a mancha tinha saído. Chorei de alegria e fiz uma super comemoração no hospital com as enfermeiras.

3º surto: Tive formigamento na perna direita. Não é um formigamento que nem quando ficamos muito tempo com a perna dobrada, ou quando deitamos em cima do braço. É um formigamento que não dói quando mechemos e não passa. É como quando você faz muita força, e por alguns segundo a mão ou perna latejam, é essa sensação, mas com formigamento constante. Acho que ficou difícil de entender né? Mas é porque é muito difícil mesmo descrever. Vou deixar pra imaginação de cada um aí imaginar como deve ser kkkk.  Este durou um pouco mais, só no quinto dia de pulsoterapia que melhorei totalmente.

4º surto: Estava trabalhando e senti minha perna esquerda gelada. Não estava encostando em nada, ela estava coberta pela calça como a direita, mas a sensação é que viesse um gelado por dentro, principalmente na canela. Fui no banheiro do escritório, tirei os sapatos e coloquei os dois pés no chão. Com a direita eu sentia o chão gelado, com a esquerda não. Estava sem sensibilidade, na perna e pé direitos. O sintoma reverteu 100% no segundo ou terceiro dia de pulsoterapia.

5º surto: Esse não foi um surto de verdade. Nos exames não tinha lesões com inflamação ativa. Muito provavelmente foi um efeito colateral tardio da pulsoterapia que eu fiz para o 4º surto, mas apesar de não ser surto, foi o que mais me abalou psicologicamente. Fiquei aproximadamente 45 dias sem sentir o gosto de nada, isso mesmo, a coisa mais gostosa que eu colocava na boca era água, porque o restante não sentia. Colocava leite condensado na boca e parecia cola. Qualquer coisa mais firme, parecia sola de sapato. Comecei a testar, e identifiquei que coisas crocantes me davam menos aflição. Então comia erva doce, biscoito de polvilho, pipoca, eu amava comer pipoca, acho que porque pipoca já é meio sem gosto né, então não sentia muito diferente da realidade kkkk cheguei a almoçar pipoca alguns dias. Lembro de um dia que eu voltei do trabalho muito nervosa, eu estava com fome, de comer, de mastigar. Eu queria o frango crocante de um restaurante próximo de casa. Pegamos o carro, e fomos buscar, no carro mesmo eu já vim comendo, só a parte da casquinha, queimando a mão mais comendo. Desesperador! Minha mãe foi aprimorando as técnicas, fazia tirinhas bem finas de carne seca no forno que ficavam crocantes, fez chips de todos os legumes que você pode imaginar.

Nesse período eu estava odiando qualquer evento social, e parece que todos eles envolviam comida. Teve dia das mães, e rolou um almoço com feijoada e toda família e amigos, e eu dei uma garfada e chorei igual criança, de raiva de não estar sentindo nada. Sentia o cheiro, o prato feito na minha frente, e eu não conseguia.

Teve o chá de cozinha e o casamento de um casal de amigos, que o noivo é chefe de cozinha. Vocês podem imaginar que nos dois eventos só tinha comida boa né? Pois é, perdi.

Meu freezer tinha tanto potinho de coisa congelada “para quando eu melhorasse” que faltava espaço. Era tanta promessa de gente, que ia cozinhar alguma coisa pra mim quando eu melhorasse, que eu deveria ter cobrado mais de alguns que até hoje não pagaram kkkk mas psicologicamente foi muito sofrido.

Comer é um dos prazeres da vida, ninguém come só pra se alimentar, a gente come porque é gostoso, e nesse período pra mim não era! Comecei a dar valor ao cheiro, a textura, a companhia, a tudo que envolve as refeições e claro a farofa crocante de soja, que me ajudou muito!

As vezes a gente esquece de agradecer as coisas simples, e quando elas faltam, sentimos muito e só aí percebemos sua importância. Cada detalhe do nosso corpo é mágico, e funciona exatamente do jeitinho que tem que funcionar. Até aquele seu joanete, tá lá por algum motivo. Precisamos aprender a valorizar os detalhes!

Eu aprendi a encarar e a administrar essas e outras adversidades da vida, com várias ferramentas e estratégias, que estudei ou desenvolvi e posso e quero te ajudar também!