Como descobri meu diagnóstico (Parte 4 de 4 – ufaaa!)

Depois do exame eu não conseguia ficar em pé nem sentada, a dor era insuportável… o recomendado é que se permaneça deitado com a barriga para cima, e sem travesseiro durante 48h após o exame… e assim fiz… recebi a visita das minhas irmãs, da minha mãe, meu cunhado, tudo sem olhar pro lado ou levantar, só deitada olhando pro teto… o que se passava na minha cabeça? Nada! Eu estava fora do corpo e assim permaneci por várias horas… entre um elogio e outro das enfermeiras para meus cílios e minhas unhas… eu dormia e acordava….

Mas eu já estava esquecendo de contar do gato… tive que cancelar com ele de novo, que claro não gostou nada disso, mas com jeitinho e muita conversa ficou tudo bem…

No dia seguinte de noite, já eram mais de 21h.. eu estava sozinha no quarto (sempre optei por dormir sozinha no hospital… não acho que tem necessidade de alguém ficar passando perrengue, sendo que estou no hospital, com enfermeiros e super bem cuidada!)… um médico entrou, conversou comigo por uns 10 minutos sobre tudo, trabalho, vida, família… pediu pra eu me manter deitada sem mexer a cabeça por mais algumas horas… segurou na minha mão esquerda e falou que o resultado do exame tinha saído, e que a suspeita deles havia se confirmado.

“O que você tem é uma doença rara que chama esclerose múltipla. Infelizmente não tem cura… mas tem tratamento! E aqui no hospital mesmo, temos um especialista nessa doença que vai poder te ajudar. A gente vai começar hoje mesmo um tratamento que chama pulsoterapia, que vai te ajudar com essa falta de dicção… você precisa beber bastante água e procurar ficar tranquila… e eu e a equipe toda estamos aqui pra tudo o que você precisar…”

Eu estava dentro de um filme… sabe quando tudo parece em câmera lenta… o médico saiu devagar do quarto.. não tinha nem som dos passos dele, nem da porta… na minha cabeça veio imediatamente o desafio do balde de gelo… na época tava rolando um desafio, onde as pessoas jogavam um balde com gelo na cabeça, em prol da ELA (esclerose lateral amiotrófica), que nada tem a ver com a esclerose múltipla… mas na época eu não sabia, e cheguei por alguns minutos me imaginar como o Stephen Hawking em uma cadeira de roda, sem conseguir nem falar, nem me mexer….

Meu olho começou a encher de água… meu corpo ficou muitoo muitoo quente… e em uma fração de segundo, sem virar a cabeça, peguei meu celular na mão, e pensei “Não posso chorar! Eu preciso entender o que é isso…” e com o braço esticado em cima do rosto, fiquei a madrugada inteira lendo coisas, vendo vídeos, reportagens, estudos científicos sobre a esclerose múltipla. Foram 12 horas seguidas de pesquisa… (Ressalva pros braços guerreiros que ficaram esticados pra cima esse tempo todo e pras 4879 vezes que o celular caiu na minha cara e meu rosto aguentou firme!) vi coisas que não gostaria de ter visto… mas entendi o que era a doença e aos riscos eu estava exposta…

No dia seguinte de manhã, assim que o médico entrou no quarto, comecei a descarregar uma lista de perguntas que tinha anotado na madrugada… perguntas que iam de: “Vou poder continuar fazendo depilação a laser?” até “Vou  ficar cega?” ele foi muito gentil… respondeu algumas, mas disse que nesse momento eu precisava descansar e ficar tranquila… que após a alta, eu encontraria um especialista que poderia tirar todas as minhas dúvidas…  

Eu segui internada fazendo a pulsoterapia, e dias depois a boca já tinha voltado pro normal… no total foram 10 dias… o dia da minha alta foi lindo! O médico que me deu alta foi sensacional! Ele falou que eu era muito inteligente e articulada, e que ele tinha certeza que eu ficaria bem… me deu o encaminhamento para eu já procurar um médico especialista… e pediu pra eu procurar um psicólogo, pra me ajudar a entender o que estava acontecendo e colocar os pensamentos e aflições em ordem, e pra eu procurar um coach, pra me ajudar a traçar planos, tomar decisões e principalmente, levar meu tratamento sem interferir nas outras coisas importantes da vida… esse médico sem saber me plantou uma sementinha… Sai do hospital muito diferente do que tinha entrado… e nem era porque eu recebi um diagnóstico, porque eu estava completamente dopada de pulsoterapia e nem pelos 13kg mais pesada kkkk

Em casa não poderia ter tido recepção melhor… bexigas, doces, cartazes, tudo que eu gosto preparado com muito amor pelos meus irmãos! A família sem dúvida alguma, foi o elo mais importante desse processo… e permanece sendo!

Depois do diagnostico, muitas coisas passaram a fazer um sentido diferente pra mim… e posso afirmar que concordo 100% com essa frase do Capra:

 “A doença é um convite criativo da vida” – Fritjof Capra

Eu aprendi a administrar uma doença crônica, sem prejudicar as demais áreas da minha vida e posso e quero te ajudar também!