As 7h entrou uma copeira no quarto com meu café da manhã, li na etiqueta “dieta pastosa”, informei que estava errado, que eu tinha internado só pra fazer um exame e já ia sair, agradeci mas pedi pra ela já levar de volta e que nem precisava de outro porque eu já estava indo embora.
As 8h minha mãe chegou, informou o segurança que eu teria alta, mesmo sem achar nenhum leito com alta, ele deixou ela subir. Eu já estava pronta, escova de dente, chinelo e pijamas na bolsa pra ir embora.
9h e nada do médico passar pra dar alta. Resolvi chamar uma enfermeira no quarto, e pedi pra ela ver que horas o médico passava, afinal eu tinha internado só pra fazer um exame e já tinha feito, não tinha mais porque ficar ali, né?
As 10h meu nível de irritação já estava alto, minha mãe foi atrás do médico, e nada. Ele estava com outros pacientes. Pedi pra enfermeira já ir adiantando e tirando meu acesso do braço, que assim que o médico chegasse eu ia embora.
11h fui batendo o pé até o posto da enfermagem. “Vocês sabem do médico que vai me dar alta? Tão me segurando aqui até essa hora, sendo que o que eu precisava fazer, eu fiz as 3h da manhã! To ocupando um leito desnecessariamente, é trabalho pra vocês, custo pro hospital. Deveria ter uma regra, primeiro libera quem vai ter alta, depois vai pros outros pacientes.” (essa sou eu querendo inventar a roda no hospital. Que vergonha….)
Meio-dia o médico entrou no quarto e já tomou um sacode de cara pra ficar esperto: “Até que enfim hein Dr! Perdi a manhã de sábado toda te esperando!”, eu já em pé e com a bolsa no ombro, entortando a cabeça pra já ler e assinar o papel da alta. Ele muito educadamente pediu para eu sentar. Informou que seguia um protocolo pra definir a sequência de atendimentos, eu sentei e ele começou a falar. Na hora eu ouvi exatamente isso aqui: “Irani, vamos precisa fazer um exame de pulsão lombar. Pra isso você vai ficar internada a semana toda, se tiver que avisar alguém, já pode avisar… blá blá blá whiskas saches, blá blá blá, whiskas saches, blá blá blá.”. Ele acabou de falar, eu olhei pro lado, minha mãe estava aos prantos, virei pro médico e perguntei: “Esse exame dói Dr?” lembro da cara dele de espanto, por ser essa minha única dúvida sobre o que ele tinha falado. Sabe o que é, eu morria de medo de agulha… eu chorava pra fazer exame de sangue nessa época, pense imaginar uma agulha na coluna!!!!! Eu parei ali… nada mais importava (tipo de armadilha que nosso cérebro prega, a gente só escuta o que julgamos importante)
Nem pensei muito… pela cara dele, ali não ia ter conversa… tranquilizei minha mãe e fiz uma listinha no celular de coisas pra ela buscar em casa pra eu ficar lá… estava só pensando na agulhada nas costas… tensa com isso…
Hoje, eu sei que naquele dia, ele falou que estavam suspeitando que eu tinha esclerose múltipla… e que pelas características da ressonância, tínhamos que torcer pra ser esse mesmo o diagnóstico, porque apesar de não ter cura, tinha tratamento e bastante estudos e informações a respeito, e que se não fosse isso, seria algo mais raro… e consequentemente mais difícil de tratar…
No domingo, um médico novinho apareceu no quarto… ele era amigo pessoal do médico que tinha falado comigo no dia anterior, e especialista nesse tipo de exame e foi no domingo, em caráter de emergência, me fazer a pulsão a pedido desse amigo dele. Um fofo! Nem precisava tanta pressa pra vim me F@(**&% kkkk
Ele foi muito delicado e atencioso comigo… apalpou minha coluna durante alguns minutos, pra achar o ponto ideal… a melhor posição foi sentada com as pernas pra fora da cama… meu irmão se encaixou no meio das minhas pernas e me abraçou, e com toda a certeza do mundo recebeu uma força divina pra me segurar durante todo o exame… não consigo descrever em palavras, tudo que eu estava sentindo naquele momento… era um misto de medo, com aflição, com dor, e mais 3721 sentimentos misturados… a dor começa leve, como se estivessem querendo puxar sua cabeça pra baixo.. e depois vai só aumentando, como se você precisasse se dobrar no meio pra passar.. é uma pressão absurda… (já ouvi relatos de outras pessoas que não sentiram absolutamente nada nesse exame, e a ideia aqui não é assustar ninguém… se você vai passar por um exame desse, se ele for necessário pra você, vá tranquilo… a dor é passageira, mas a confirmação ou não, que o exame te traz, será útil pra sempre! Acredite, a maioria das pessoas não reclama de dor durante o exame!)… Assim que terminou o exame, me deitaram… meu irmão estava inteiro molhado, com meu suor, minhas lagrimas e minha baba (e acho que um pouco de lagrima dele tb!) Ele foi muito corajoso e forte (em todos os sentidos da palavra) de me sustentar naquele momento! (continua na parte 4)
Eu aprendi a ser mais paciente, e a escutar os outros, estar presente no momento presente e a ouvir de verdade, e posso e quero te ajudar também!